Introdução: A pesquisa realizada

15/03/2020

A presente pesquisa parte da necessidade que o ser humano tem em se comunicar e defender seu ponto de vista, em diferentes contextos de interação social. Diante disso, sabe-se que ler e escrever é essencial para a interação e comunicação social, pois desenvolve habilidades tais como a capacidade de interpretar e criar textos, que levam os alunos da escola básica, por exemplo a se comunicarem de forma espontânea e se posicionarem diante de diferentes temáticas, sendo imprescindível levar em consideração as transformações pelos quais o mundo passa. Estamos inseridos em diferentes contextos discursivos e sociais e, dessa forma, vários textos orais e escritos, com diferentes objetivos, são produzidos a todo momento.

Os textos produzidos diariamente possuem diferentes características e funções para atender a diferentes contextos comunicativos. Segundo Pasquier e Doltz (1996, p. 1), "não se aprende globalmente a escrever: aprende-se a narrar, a explicar, a expor, a argumentar, a descrever, a redigir atas, a escrever diversos tipos de cartas etc." Dessa forma, compreende-se que não existe um texto global, mas sim diferentes gêneros textuais que atendem a diferentes momentos e necessidades de interação e comunicação.

A todo momento estamos nos comunicando socialmente e, quando isso ocorre, trocamos ideias, conhecimentos, relatamos fatos, descrevemos ações, narramos e argumentamos, ou seja, defendemos nosso ponto de vista e ideologia a fim de convencer o outro. Koch (1993, p. 19) diz que o ato de argumentar é o ato "de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia". Logo, essa ideia, defendida pela autora, comprova o fato de que o ser humano tem necessidade de convencer o outro sobre seu ponto de vista.

Nesse sentido, a argumentação está inserida no contexto escolar por meio de debates em sala e produções textuais para preparar o aluno para os diversos contextos de interação que existem na sociedade. Segundo os PCNs (1998), é objetivo do ensino fundamental que o aluno, por meio de diversas situações sociais e por meio de diálogos, posicione-se de forma crítica para solucionar conflitos e tomar decisões. Logo, a argumentação a ser trabalhada em sala, prepara os alunos para debater diversos assuntos nesse ambiente e em outros também, e a vivenciar diferentes situações sociais que exijam que eles discutam variados temas e tomem partido deles.

Diante desse contexto, a motivação da pesquisa surgiu em uma sala de aula em que eu atuava com alunos de 8º ano (hoje 9º ano) - no início de 2018 - como professora de língua portuguesa da turma. Os alunos demonstravam muito interesse nas aulas de língua portuguesa, principalmente nas atividades que envolviam leitura, interpretação e discussão de temáticas. O gosto por participar de atividades que envolviam debates em sala era percebido pela disputa que se tinha em participar, debater e falar. Todos queriam falar e expor a opinião que muitas vezes partiam do senso comum. Além disso, os alunos produziam textos argumentativos escritos com frequência, no entanto, com informações externas limitadas, o que me levou a pensar em propostas que oferecessem aos alunos a oportunidade de pesquisar e ler mais e consequentemente enriquecer os textos produzidos com informações externas [1]como comparações e citações para sustentar o ponto de vista defendido por eles.

Outro destaque da turma era o relato de que, muitas vezes, esses alunos, em geral, deixavam de estudar no período que estavam em casa, por passar o tempo utilizando as redes sociais, principalmente o whatsapp, um aplicativo multiplataforma em que as pessoas enviam mensagens instantâneas e chamadas de voz e vídeo pelos stmartphones. Dessa forma, o interesse pelo celular era apenas para o entretenimento.

Diante disso, é importante destacar que o ser humano, em especial os jovens inseridos neste mundo globalizado e repleto de tecnologias, necessita cada vez mais saber usar a tecnologia para desenvolver diferentes saberes e fazer parte de diversas redes virtuais - por meio de aparelhos tecnológicos como smarthphones ou computadores - a fim de estabelecerem relações sociais.

Nesse sentido, Morán (2013) fala sobre o campo em que estamos inseridos e as possibilidades que esses campos nos dão para comunicar na educação e na vida. Diante dessa situação constatada em sala de aula, surgiu com a presente pesquisa, o interesse de criar um grupo específico de whatsapp, que lhes permitisse discutir outros assuntos, como temáticas abordadas em sala de aula, e utilizassem o aplicativo também para outras finalidades, para que os alunos pudessem aproveitar mais o tempo fora da escola, realizando debates (atividades de que eles gostavam) e realizando pesquisas para ajudá-los a criar textos com mais informações, demonstrando que as ferramentas tecnológicas podem permitir situações de aprendizado formal também. Além disso, os alunos poderiam se conscientizar das outras formas de uso do instrumento e ao mesmo tempo observar a influência das pesquisas realizadas para que aconteça trocas de conhecimento no grupo e posteriormente aproveitar o conhecimento adquirido e enriquecer as aulas com debates e produções textuais com mais informatividade.

A pesquisa "A abordagem funcional dos gêneros de opinião, a partir do uso da tecnologia em sala de aula" surgiu e justifica-se após a reflexão da situação real do ensino de língua e produção textual em sala de aula relatada. Com base nessas considerações e levando em consideração que a abordagem funcional se diferencia do tratamento tradicional do texto devido a análise do uso da língua no texto para favorecer a comunicação, parto da hipótese de que as estratégias argumentativas utilizadas pelos alunos, tanto no artigo de opinião, quanto no grupo whatsapp e no debate, são ampliadas quando as discussões sobre o tema previsto são mediadas a partir de uma concepção de linguagem centrada no papel dos interlocutores e nas relações temáticas que estabelecem na interação verbal.

O uso de gêneros discursivos na escola pressupõe que a situação de interação mobilize o papel desses interlocutores, as estratégias implicadas, bem como a função das condições de produção e constituição desses gêneros e sua função social que se manifesta no uso da linguagem (SCHNEUWLY E DOLTS, 2004). Assim, como intuito desta pesquisa, professores, pesquisadores, encontrarão adiante, nas Sequências Didáticas (SD) elaboradas, material de análise sobre como esses gêneros favorecem a argumentação dos alunos, como promover esse trabalho, e como os alunos refletiram sobre as estratégias de leitura e argumentação utilizadas em sala de aula ao realizarem a escrita de natureza argumentativa dos textos orais e escritos propostos.

Este trabalho observou, portanto, como se dá a funcionalidade dos gêneros de natureza argumentativa e a seleção de estratégias argumentativas (como por exemplo, uso de informações externas, uso de elementos coesivos, marcadores argumentativos, uso de persuasão e convencimento do interlocutor etc.) e como essa argumentatividade surge nos gêneros artigo de opinião e debate e como os princípios de argumentatividade se manifesta nos textos produzidos.

Esta pesquisa teve o intuito de favorecer o desenvolvimento do posicionamento crítico do aluno e as estratégias utilizadas por eles na hora da argumentação. Com base nisso, esta pesquisa se baseou nas funções da linguagem descritas por Halliday (1973). De acordo com o estudioso, a função está relacionada ao uso da língua de acordo com a necessidade dos interlocutores e existem três formas de reconhecê-la. A primeira função é a ideacional, quando o falante expressa sua experiência relativa ao mundo real ou ao mundo interior para assim, conseguir relacionar suas experiências com outras situações e consequentemente compreender o mundo. A segunda, a interpessoal, está relacionada à interação, ou seja, a relação dos interlocutores. O locutor insere sua mensagem e o interlocutor pode aceitar ou refutar o que foi expresso. A textual, por fim, está relacionada à materialização e organização das informações adquiridas por meio de informações dadas e novas. Estas sintetizam o processo escolhido para a realização desta pesquisa: Conhecimento de mundo por meio de leitura e pesquisa e das experiências (função ideacional); debate do grupo whatsaap e em sala por meio da interação social (função interpessoal), e por fim, produção de texto (função textual).

A presente pesquisa envolveu 12 alunos de uma sala de aula de 9º ano, da Escola Municipal Cesário Lopes de Oliveira de Ordália - Distrito de Itauçu - GO. Esta se caracteriza como uma pesquisa qualitativa (pesquisa-ação) e recorreu aos seguintes instrumentos para coleta de dados: observação inicial, questionários iniciais e finais e produções textuais orais e escritos. A escola foi escolhida por ser onde a pesquisadora desta pesquisa detectou as dificuldades sobre a produção de textos argumentativos.

As perguntas de pesquisa que orientaram este trabalho foram:

  • Como utilizar os gêneros discursivos argumentativos no ensino de língua portuguesa a fim de desenvolver as habilidades escritas e críticas do aluno?
  • Quais estratégias de ensino um professor de língua portuguesa pode usar na sala de aula para motivar os alunos a escrever textos com maior grau de informatividade e argumentatividade e, consequentemente, se tornarem escritores mais competentes e críticos?

Por fim, este trabalho apresenta a análise dos resultados em que se percebeu a grande influência das discussões realizadas em sala de aula, mediadas por mim, como professora da turma, além de pesquisas realizadas pelos alunos para enriquecer as informações do texto, além do uso dos operadores argumentativos e as técnicas de argumentação (estilo, linguagem, conhecimento externo).

A análise dessas condições de produção do texto de opinião, levou à concepção e elaboração do produto educacional (sequências didáticas e a criação de um blog) - como parte obrigatória de uma investigação teórica-metodológica dos mestrados profissionais - também faz parte dos resultados da pesquisa, pois poderão servir para análise de professores sobre as atividades de produção textual que podem ser realizadas em sala, de modo a favorecer a argumentação e discutir sobre a importância da manifestação de um ponto de vista crítico, e da perspectiva do outro sobre um dado tema.

Este trabalho se divide em três capítulos. No primeiro capítulo, temos a apresentação da fundamentação teórica utilizada. Há a exposição de conceitos teóricos ligados à concepção de linguagem interacional defendida por Bakhtin (1994); a abordagem funcionalista, em relação à importância das funções propostas Halliday (1973) para a noção de organização textual-discursiva da argumentação; o trabalho de Rojo (2000), Marcuschi (2008), Koch (1993), Bronckart (1999), Tyteca (1996) no que se refere aos gêneros e aos elementos gramaticais de natureza argumentativa; e quanto aos estudos da inserção da tecnologia na sala de aula, recorremos a Lévy (1999), Kensky (2003), Coscarelli (1996), Morán (2013), dentre outros.

No segundo capítulo, há uma reflexão sobre o contexto da pesquisa (uma turma de 9º ano); a escola e, posteriormente, a descrição da metodologia utilizada (pesquisa-ação) para coleta de dados, bem como a descrição dos dados colhidos e análise das aulas aplicadas em sala de aula. No terceiro capítulo, apresentamos a análise das produções textuais dos alunos e a configuração do produto educacional: sequências didáticas e o blog com orientações sobre como pode se dar a produção de textos, dúvidas, questionamentos, sobre gêneros textuais de natureza argumentativa, espaço aberto para professores e alunos do EM, - cujo intuito é valorizar, publicar e trocar ideias sobre diferentes temas e gêneros textuais, pensando a dinâmica da interação social.


[1] Informação externa em um texto é caracterizado pela capacidade do escritor em relacionar um tema com outros assuntos ou temáticas por meio de citações filosóficas, literárias ou ainda a descrição de fatos para exemplificar o tema abordado.

@2020DanúbiaSampaio
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